Com o crescimento dos centros urbanos os pássaros que buscam nas árvores um local seguro para se reproduzir, como as curruíras, as tirivas e os tico-ticos, viram diminuir os espaços disponíveis para construir seus ninhos. Pensando nisso o artista e marceneiro Marcelo Weber construiu casas de passarinho com madeira de pinus reciclada de caixas de bacalhau norueguês e batizou o projeto de Minha Casinha Minha Vidinha.
As pequenas habitações são assinadas pelo artista, levam impresso em tipografia o nome do projeto, medem 16x15x14 cm. e estarão a venda no Maia Box, no Mercado Municipal de Curitiba, a partir de sábado (13/12) ou, para pedidos via internet, clique aqui.
Músicos voadores, os pássaros nidificam nos mais insólitos lugares. Este projeto oportuniza aos pássaros opções de ninhos solidamente construídos com madeira de reciclagem de caixas de bacalhau, estampadas com tipografia. As casas desse programa garantem aos filhotes um crescimento seguro e saudável, possibilitando a inserção social das aves num ambiente urbano hostil, estranho e violento. Em contrapartida, quando instaladas em varandas e beirais de casas, brindam-nos com a presença poética destes animais emblemáticos, inspiradores da liberdade e da simplicidade.
O que é interessante é que tendo a presença de um pássaro dentro de casa, numa área que você usa todo dia, na hora de tomar café ou fazer alguma coisa você vai acompanhando, e depois se envolve. Olha, a casinha foi ocupada! Olha, a curruíra tá trazendo cisco, folhinha e pedaço de galho pra dentro da casinha e, mal ou bem, você acaba sabendo toda a história do que está acontecendo ali, você se vincula com aquilo e participa assim do processo natural da vida selvagem!
Quando eu comecei a pensar em fazer as casinhas com a caixa de bacalhau eu estava imprimindo o rótulo da Pimenta Coice de Camelo, que é uma ideia antiga minha de trabalhar com a tipografia e com a impressão de gravura em outros suportes. O que me fez colocar o nome de Minha Casinha Minha Vidinha é que eu estava procurando alguma coisa para imprimir na casinha, como um suporte diferente pra tipografia, pra gravura. Porque hoje não tem mais suporte, perdeu a materialidade, tudo virou tela de computador.
Eu sempre vou no Mercado Municipal e vejo que ali tem um problema de reciclagem porque se joga muita caixa fora, de isopor e de madeira, de peixe fresco e de bacalhau. Comecei pedindo e ganhando as caixas, só que daí um funcionário que cuida do lixo viu que eu me interessava, criou um preço e começou a guardar as caixas pra mim. Na Páscoa eu cheguei a pegar 80 caixas de bacalhau. E quando veio essa ideia das casinhas eu pensei, poxa, a caixa de bacalhau é ideal pra fazer essas casinhas; envolve já um conceito de reaproveitamento de uma madeira que veio da Noruega, que veio da Suécia, do norte europeu.
Na fragilidade do passarinho ainda implume o casal alimenta o filhote seguidamente. De repente vai deixando de alimentar, vai alimentando menos; o passarinho começa a ter fome e isso cria o estímulo pra ele botar a cabeça pra fora e gritar mais, até ele pular pra fora porque está com muita fome e sair ele mesmo acompanhando a mãe e o pai que ainda o vão alimentando. E depois o filhote pode vir a fazer o ninho no próprio ninho. Esse processo de emancipação do passarinho eu acho modelar, exemplar… a curruíra, o tico-tico e os canários-da-terra são os pássaros que vão nidificar aqui na cidade, no meio mais urbano.
Serviço: Exposição “Minha Casinha Minha Vidinha”, de Marcelo Weber.
Local: Maia Box, Mercado Municipal de Curitiba.
Data: De 13 a 23/12/2014.
Fotografia e edição: Gilson Camargo
Você como sempre Marcelo nos surpreendendo a fundo. A preocupação ecológica bem pertinente se engrandece sugerindo uma imensa reflexão existencial perfeita numa época que nos acomodamos deslumbrados com nosso próprio umbigo.Vigor para sua voz em 2015!