Letícia Sabatella e Daniel Dantas apresentaram dois cantos da Ilíada de Homero na tradução de Manoel Odorico Mendes na abertura do “32° Festival de Inverno da UFPR”, em Antonina. Os cantos 1 e 20 foram interpretados em sequência por Daniel e Letícia, ligando, em visão sinóptica, dois momentos epifânicos do poema. O estabelecimento do conflito interno entre os gregos e suas motivações, no canto 1, com o retorno triunfal e implacável do herói ao campo de batalha, no canto 20.
A montagem, que integra o repertório da Cia Ilíadahomero de Teatro, fundada em 1999 e dirigida por Octavio Camargo, teve apresentação e sinopse dos cantos de Márcio Mattana, montagem e operação de luz de Fernando Dourado, fotografia e documentação de Gilson Camargo, captação e transmissão em vídeo da UFPR TV.

17 de Julho de 2022, 21h
Esta récita faz homenagem especial à memória de Claudete Pereira Jorge, atriz paranaense, que estreou o canto 1 da Ilíada de Homero na tradução de Odorico Mendes na Grécia, em 2007, na 1° Bienal de Arte Contemporânea de Tessalônica, e que nos deixou precocemente, em 2016.
“Eu entrei em um projeto que já existia, com vinte e quatro cantos, cada um com um ator, e eu fiquei apaixonado pela linguagem, não só do Homero, mas pela linguagem específica do Odorico, nosso tradutor. E meio de brincadeira eu comecei a decorar, a conversar, e ficamos amigos eu e o Octavio, o diretor da companhia.
Eu acho fundamental que a gente repita e insista fazendo coisas que as vezes não são tão fáceis, porque eu acho que é um pouco isso que a arte pode oferecer, buscar dar à plateia o que ela quer e o que ela ainda não quer, aquilo que ela vai aprendendo a gostar. E fazer uma participação nesse festival, nesse momento em que tudo está sendo atacado, demolido e tal, é importante porque vira também um ato de resistência a esse desmonte que a gente está sofrendo. Então, é um prazer nesses dois sentidos, fazer a coisa em si é um desafio, lidar com a linguagem do Odorico, com esses onze personagens – que na verdade eu brinco que faço um só, que é o narrador, o resto pinta levemente o que os outros personagens falam -, está sendo um prazer. É sempre um desafio e um prazer.”
Daniel Dantas

Agamenon:
“Foge,
Se é teu prazer; que fiques não te imploro:
Honram-me outros, e em Júpiter confio.
Dos reis alunos dele és quem detesto;
Só respiras discórdias, rixas, pugnas.
Tens valor? agradece-lho. Os navios
Recolhe e os teus; nos Mirmidões impera:
Não te demoro; esse rancor desdenho.
Priva-me de Criseida Febo Apolo:
Em nau minha esquipada vou mandá-la.
À tenda hei de ir-te mesmo, eu to previno,
Tomar-te a elegantíssima Briseida;
Sentirás em poder como te excedo,
E outrem se me antepor e ombrear trema.”
“Unir o meio acadêmico com a arte é algo pelo qual a gente tem que lutar. No nosso país, agora, a gente está muito ameaçado. A nossa cultura e a nossa educação, nesse governo, foi meio demonizada. Então, é uma hora muito necessária da gente mostrar o quanto é importante o que se faz numa universidade pública. É um local de pesquisa, de ciência, de verdade, e sempre foi assim. É uma luta muito digna a das nossas universidades, é a luta pela educação no país! E a cultura está junto, a cultura é também uma forma de medicina, uma forma de educação, o teatro, a arte, a música.
É uma honra participar, com a Cia Iliadahomero, dessa união nessa pesquisa em torno de um estudo tão profundo, tão intenso, de algo que nos forma, que nos alimenta, que explica muito do que nós somos. Como diz o mentor disso tudo, Octavio Camargo, do quanto é importante a educação. Pensar que esse texto da Ilíada era empregado para educar e como a gente precisa valorizar isso na nossa sociedade, no nosso país. É muito lindo a gente estar pesquisando isso dessa forma e ir entrando neste clássico do ocidente que é a Ilíada.”
Leticia Sabatella

Netuno:
“Senhor do raio,
Por que de novo os imortais convocas?
Sobre os Aqueus e os Teucros deliberas,
Prestos a arder em sanguinosa lide?”

Letícia:
Nossa gente, que sufoco que eu passei agora, hein! Que lindo! Que presença maravilhosa de todos vocês! Foi uma honra imensa ser chamada para vir aqui no Festival de Antonina. Eu amo essa cidade, tive experiências muito ricas com as pessoas daqui. E obrigada por vocês terem resistido ao frio, a fila, as dificuldades para adentrar nessa linguagem. É um mergulho muito rico. A Universidade Federal do Paraná nos honra como um espaço de amplo debate, onde a cultura acontece, a história, é a verdadeira história a ser contada, sem fake news. E é lógico que a gente quer um país melhor para todos, sem esse governo horrível que está aí.
Daniel:
Homero era parte da educação dos gregos, e ele nos mostra claramente uma coisa: entre a morte e a vida não tem terceira via!
Letícia:
Viva a vida! Estamos lutando pela vida, pela vida dos brasileiros. Muito obrigada.

