Nos Dias do Mar – Exposição de Marcus André – Galeria Ybakatu

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Conversa com alunos dos cursos de pintura e escultura da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP), nas classes das professoras Carina Weidle e Fátima Junqueira.

Em Nos Dias do Mar, Marcus André apresenta pinturas recentes, em têmpera e encaustica sobre tela, em formatos variados. A encaustica é uma antiga técnica de pintura, onde se mistura cera de abelha a pigmentos, resina vegetal, carnaúba, entre outros, criando tintas estáveis e resistentes ao tempo.

Eu acho que o grande mérito do objeto de arte é, de certa forma, ele se manifestar por ele mesmo. Eu acredito que qualquer coisa que seja dita anteriormente ao fato da gente ver a obra, é secundária. Mas, como a gente está aqui na galeria e todo mundo já viu a exposição, então eu acho que podemos falar um pouco sobre isso sem demérito nenhum do próprio trabalho.

Este é um trabalho tradicional de pintura, feito em estúdio, mediante certas regras de estúdio. Eu gosto de frisar isso porque muitas vezes as pessoas acham que o trabalho pode se dar em qualquer condição e, na verdade, a gente sempre encontra uma maneira de estabelecer uma certa prática limitada às próprias condições e à natureza do trabalho. Uma vez impostas estas regras, que a gente mesmo cria, com o tempo a gente vai produzindo coisas que depois podemos chamar de produção artística.

Minha formação como artista é variada. Eu não tive uma escola ou uma academia que, na época, pudesse ser um grande apoio. Eu fui meio que tateando, lugares, pessoas, artistas e técnicas, e isso foi me trazendo erros e acertos. Hoje em dia o momento é bem diferente, onde se tem uma escola onde você consegue reverberar o que acontece dentro e fora dela. Eu acho isso bem interessante. A minha formação foi diferente e não tem nada de errado ou de certo nisso, é simplesmente a maneira como cada um vai fazendo as coisas a que se propõe.

A encáustica não é uma coisa nova, é uma coisa muito antiga, porque antigamente você não tinha os polímeros. Hoje em dia você tem os polímeros naturais, que são o óleo de linhaça, o óleo vegetal, e você tem os polímeros de origem sintética, os poliésteres, mas, antigamente não tinha isso, então os caras usavam cera de abelha porque a cera agregava o pigmento através do aquecimento.

Esse material não se permite a gestos muito arrojados, ele é um material “travado” por natureza. Porque ele está quente e ele esfria. Então, no momento em que você começou a fazer assim, na metade ele já está frio, ele não vai adiante. Diferente de uma tinta de parede, de uma tinta acrílica, uma tinta a óleo, qualquer coisa liquida que você usar, você estende o seu gesto. Isso é uma preocupação que não era minha, mas, uma discussão aberta no ambiente de arte através de outros artistas, e eu ficava pensando, poxa, realmente, esse material é um problema, porque ele não é muito expressivo. Mas, o que é expressão? O que é a expressividade? O que é isso para cada um? E, o que é a falta de expressividade? Essa problemática passou a me interessar.

A encáustica é um composto, uma pele pictórica, uma técnica. Ela em si não é muito expressiva. Imagine uma coisa que retém a luz, que não devolve muita luz, ela absorve a cor, e isso me interessou. A encáustica come o pigmento, abafa, corta a cor. Pela própria natureza do material, as cores não ficam muito vibrantes, você tem que criar essa vibração. Quando você usa óleo, você pega um amarelo, um vermelho, um laranja, e pinta uma superfície, aquilo é muito mais vibrante, é mais presente, tem mais plasticidade, tem mais oferta para o olho. No óleo a cor vem pronta. Na encáustica eu arbitro a saturação dela.

Mas, apesar da cor, eu não acho que este trabalho seja essencialmente sobre cor, e não tem a pretensão de ser. O que eu acho mais interessante é uma sugestão de uma paisagem que você tem como entrar, e essas intervenções que são pouco evidentes, que você pode voltar atrás nelas, que você pode reconstituir. Uns tem mais, outros tem menos, tem uns que não tem quase nada. Mas, o que fica mais evidente pra mim são essas camadas, a têmpera e a encáustica, e nisso a paisagem vai se apresentando, vai criando esse aspecto de paisagem. Eu não tenho preocupação nenhuma sobre se ele é abstrato ou figurativo. Isso não é para mim uma questão.

Marcus André (Rio de Janeiro, 1961) vive e trabalha em Búzios, no Rio de Janeiro. Frequentou os cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage entre 1978 e 79 e em 1984 participou da exposição ‘Como Vai Você, Geração 80?’. Em 1985 cursou a Parson’s New School of Social Research Printing, em Nova York. De volta ao Brasil, recebeu o prêmio no XIII Salão Nacional de Artes Plásticas e realizou individuais de pintura na Funarte Projeto Macunaíma/ Espaço Alternativo RJ, Projeto Centro Cultural São Paulo / Pavilhão da Bienal Ibirapuera e MASP SP. Representou o Brasil em Bienais no México, Cuba, Equador e Japão. Recebeu os prêmios de aquisição em pintura no Museu de Arte de Brasília DF e na Mostra Internacional de Gravura Curitiba PR. A partir de 1995 foi contemplado com as bolsas: Primeiro Programa de Bolsas RioArte 1995-96, tendo na comissão os críticos e professores Heloisa Buarque de Holanda e Ronaldo Britto, O Artista Pesquisador MAC Niterói RJ 1998, Bolsa FAPERJ / Fundação de Apoio a Pesquisa 1998 e The Pollock-Krasner Foundation Inc. Grant NY 2007.

http://www.marcusandre.com

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Nos Dias do Mar, 2017.
Tempera e encaustica s/ tela.
20 x 44 cm.

No Rio a cidade é muito exposta, e Curitiba é mais introspectiva. As pessoas são mais introspectivas. A cidade é mais no submundo, ela acontece underground. Eu senti isso.

Pra você fazer uma mostra eu acho Curitiba muito interessante, porque é um espaço muito reflexivo, pela escala da cidade, pelas pessoas, pelo tempo. Isso é muito legal. Eu acho que isso é uma coisa boa, positiva daqui.

De 21 de junho a 28 de julho de 2017.
Visitação de segunda a sexta, das 10h às 12h30 e das 13h30 às 17h.

Galeria Ybakatu
Rua Francisco Rocha, 62 Lj. 06 Batel – Curitiba/PR
Tel: +55 41 32644752 | Skype: Ybakatu
www.ybakatu.com.br

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